quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Estratótipos

Estratótipo é uma camada de material sedimentar que devido às características que possui é considerada a nível internacional como a mais representativa de um determinado intervalo de tempo. Podem ser:
- Simples: quando se tem apenas um local/secção estratigráfica, se for insuficiente ou se não retratar de uma maneira simples recorre-se a outra área abrangente, formando estratótipos:
- Compostos.

Os estratótipos representam adequadamente as unidades sem hiatos ou descontinuidades, boa disposição da base até ao topo e deve mostrar variações laterais de fácies. Estas estruturas fazem assim a descrição geológica e geográfica do local, incluindo outros parâmetros como a localização, meios de acesso, espessura, litologia, paleontologia, mineralogia, estrutura e expressão morfológica. Os seus limites são dados por localidades-tipo ou áreas-tipo.

Existem diferentes estratótipos:
- Holostratótipo – estratótipo original definido pelo autor aquando do estabelecimento de uma unidade ou de um limite.
- Parastratótipo – estratótipo suplementar utilizado pelo autor original para completar a definição original de Holostratótipo.
- Lectostratótipo – estratótipo seleccionado mais tarde na ausência de um estratótipo original devidamente designado.
- Neostratótipo – estratópico novo escolhido para substituir um antigo desaparecido ou rejeitado.
- Hipostratótipo (Corte de referência) – estratótipo suplementar destinado a completar o conhecimento de dada unidade ou de um limite noutra áreas geográficas ou com fácies diferentes de Holostratótipo.

São principalmente considerados originais o Holostratótipo e o Parastratótipo. O Lectoestratópico e o Neoestratótipo podem acabar por serem designados como primários e o Hipostratótipo é como um padrão auxiliar secundário.

Dentro da mesma região-tipo situam-se os Holo, Para e Lectostratigráficos. Os Neo e Hipostratótipos podem ser escolhidos fora da região original.

Existem alguns problemas que se podem pôr: O facto de caracterizarem intervalos temporais muito breves e, muitas vezes incaracterísticos do desenvolvimento filogenético de certos organismos; serem caracterizados, em regra por conjuntos demasiado restritos de organismos e apenas representarem determinadas fácies; caracterizarem apenas determinada província paleobiogeográfica e ainda as dificuldades de controlo da existência de sobreposições ou de hiatos em estratótipos compostos.

Existe uma necessidade de uso de uma linguagem universalmente válida para que a comunicação e cooperação entre investigadores seja facilitada, obtendo assim melhores resultados e conclusões.


Excerto de uma tabela de estratótipos (http://www.stratigraphy.org/gssp.htm)






A IUGS (Uniao Internacional de Ciências Geológicas) rectificou, em 1997, que o perfil do Cabo Mondego (Figueira da Foz) era o mais representativo da passagem Aaleniano-Bajociano (Jurássico Médio).













Bibliografia:
- Apontamentos Estratigrafia e Paleontologia 2008/2009 – Prof. Paulo Legoinha, UNL
- http://www.stratigraphy.org/gssp.htm (Global Stratotype Sections and Points) (22-10-08)
-
http://caminhadasnapraiadequiaios.blogspot.com/2008_04_01_archive.html (caminhadas na praia de Quiaios (Figueira da Foz):Abril 2008) (22-10-08)
-
http://fossil.uc.pt/pags/geolestratbm.dwt (Geologia do Cabo Mondego) (22-10-08)


sábado, 18 de outubro de 2008

Tempo Geológico

Um dos problemas fundamentais da Estratigrafia relaciona-se com o Tempo. Envolve o reconhecimento da sucessão local de camadas e a correlação de cortes geológicos abrangendo áreas cada vez mais vastas para se elaborar uma coluna estratigráfica de um local que seja compreendida mundialmente.

Há princípios que ajudam na interpretação destes parâmetros. No entanto, foi estabelecida uma Escala de Tempo Geológico, baseada na fauna e flora existentes na Terra desde a sua formação. Esta escala permite-nos situar acontecimentos no Tempo.


Para isso existem unidades estratigráficas que nos auxíliam através da materialização de conceitos conseguida através da observação e/ou dedução. Temos por exemplo unidades litodémicas (baseadas na litologia e constituídas por corpos líticos que não respeitam o princípio da sobreposição (rohas ígneas, metamórficas ou sedimentares muito deformadas)), as alostratigráficas (conjuntos líticos separadas por descontinuidades), as pedostratigráficas (relacionadas com os paleossolos) e as magnetostratigráficas (baseadas na polaridade magnética). Aquelas que mais se evidenciam num quadro estratigráfico são as geocronológicas, unidades abstractas/temporais, que nos dão o tempo correspondente às unidades objectivas cronostratigráficas que se baseam essencialmente nas relações de idade.



Relação entre unidades cronostratigráficas e geocronológicas


O aparecimento e desaparecimento de formas vivas, a sua evolução, são também pontos que servem de referência para definir e limitar unidades estratigráficas, no caso, biostratigráficas, que se definem como o resultado da organização de estratos rochosos em unidades especialmente designadas, baseadas no conteúdo e distribuição de fósseis.






(http://adpalhares.no.sapo.pt/ima25.jpg)



Biozona é um exemplo destas unidades, e contém vários tipos:
- zonas de conjunto ou cenozonas
- zonas de extenção vertical (simples, composta/concomitante, zona de oppel, filozona)
- zona de acme ou apogeu
- zona de intervalo – conjunto de estratos situados no intervalo entre dois biohorizontes (nível de aparição ou de extinção de um táxon).

Biozona de Extensão. Os limites inferior, superior e laterais da Biozona de Extensão Aa são definidos pela extensão da ocorrência dos fósseis do táxone Aa. (http://webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleotemas/Fossilindex/Fossilindex.htm)



Através da correlação, relações entre diferentes cortes geológicos podemos obter uma identidade lítica, biostratigráfica e cronostratigráfica que nos informarão sobre a sua heterocronia ou
isócronia.

Quando se fala em datação de estratos, é normal separar dois processos distintos: a datação relativa e absoluta.

Nos processos de datação relativa, não é determinado nenhum valor concreto. São importantes alguns princípios de estratigrafia que fazem uma relação temporal entre estratos: Princípio da sobreposição, Princípio da intersecção e Príncipio da inclusão. O Princípio da identidade paleontológica é também relevante, pois estratos com o mesmo conteúdo fossílifero têm importantes associações, principalmente se se tratarem de fósseis característicos.


O termo datação absoluta não é o mais correcto, pois podem haver erros de margem de alguns milhões de anos. Normalmente, dentro deste meio podemos falar de métodos radiométricos e não radiométricos.

Os primeiros , também referidos como datação isométrica, baseiam-se na existência de átomos radioactivos (Ex.: potássio, estrôncio, urânio, rubídio, carbono, etc) que se desintegram: O núcleo de um elemento que seja instável pode dividir-se em ‘isótopos-filho’, e as taxas de desintegração destes elementos são conhecidas e designam-se ‘tempos de meia-vida’, tempo que cada elemento demora até se separar. Assim, é possível saber com precisão o tempo de existência dessas partículas e consequentemente da rocha.



Datação radiométrica – (http://www.igc.usp.br/geologia/geocronologia/Fig1.jpg)

Os métodos não-radiométricos são por exemplo: a dendrocronologia (através da contagem dos anéis de crescimento dos vegetais ou das cristas de crescimento dos corais), o paleomagnetismo (através da orientação dos campos magnéticos no interior dos minerais ferromagnéticos induzida pelo campo magnético da altura da formação da rocha) e a contagem de varvas (consegue-se saber a duração do intervalo de deposição de uma sequência de varvas, pela sua contagem e espessura média).

Bibliografia:
-
http://webpages.fc.ul.pt/~cmsilva/Paleotemas/Fossilindex/Fossilindex.htm - (Temas de Paleontologia: fóssil índice fóssil de idade – Carlos Marques da Silva, FCUL) (13.10.08)
-
http://moodle.fct.unl.pt/mod/resource/view.php?id=93669 (Aspectos Gerais da Estratigrafia – Prof. João Pais, UNL) (13.10.08)
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http://moodle.fct.unl.pt/mod/resource/view.php?id=93664 (Tempo geológico – Luís Domingos) (13.10.08)
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_tempo_geol%C3%B3gico (Escala de tempo geológico – wikipédia, a enciclopédia livre)- http://moodle.fct.unl.pt/mod/resource/view.php?id=93668 (Quadro das divisões estratigráficas) (13.10.08)
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http://www.geocities.com/fundamentos_geologia/dataabsoluta.html (http://www.geocities.com/fundamentos_geologia/dataabsoluta.html) (14.10.08)

domingo, 12 de outubro de 2008

A Estratigrafia está ligada à deposição de material ao longo do tempo. As características destas deposições variam de acordo com diversas condições.
Assim, os estratos podem-se dividir consoante a espessura que adquirem:
- Lâminas: estratos com espessura <1cm
. finas: 10mm-0.5cm
. espessas: 0.5cm-1cm
- Camadas: estratos com espessura >1cm
. finas: 1cm-10cm
. médias: 10cm-30cm
. espessas: 30cm-1m
. muito espessas: >1m


A não deposição de material pode decorrer durante algum tempo o que origina limite de camadas (junta/plano de estratificação). Se ocorrer erosão surgem descontinuidades.
Estas podem ser de vários tipos:

Descontinuidades Sedimentares - Descontinuidades entre duas lâminas correspondentes a marés sucessivas num intervalo de tempo muito curto. Podem atingir vários metros e indicam-nos uma simples ausência de deposição (descontinuidade passiva) ou a destruição parcial ou total da lâmina anterior (descontinuidade erosiva).

Descontinuidades Estratigráficas - Quando duas unidades são separadas por um intervalo de tempo. Podem alongar-se por vários quilómetros.

Descontinuidades Diastróficas - Quando à ausência de determinada unidade geológica se associa uma deformação tectónica (formando uma discordância angular).


Existem assim diferentes contactos entre unidades litológicas:
- Estratigráfico normal

Concordante - sempre que há continuidade entre unidades sucessivas.




Paraconformidade - quando não há diferença de atitude entre as unidades sobrepostas mesmo que faltem diversos conjuntos líticos que é comum corresponderem a vários milhões de anos.




- Intrusivo - Quando um corpo ígneo atravessa as unidades já sobrepostas.

- Discordante
Não Conformidade - contacto entre um conjunto sedimentar e um corpo ígneo ou conjunto metamórfico mais antigo.





Disconformidade/Ravinamento - Superfície erosiva que põe em contacto rochas sedimentares com a mesma atitude, portanto não conforme a estratificação.




Discordância Progressiva - Quando os diversos níveis vão fazendo ângulos progressivamente diferentes com o substrato.



Discordância Angular - As inclinações do conjunto superior e inferior são diferentes, fazendo um ângulo entre si.

Se houver erosão após a inclinação dos estratos mais antigos antes da deposição dos novos sedimentos que darão origem à estratificação inicialmente horizontal, diz-se haver uma Discordância Angular Erosiva.



- Mecânico
Falha
Deslizamento



Os depósitos sedimentares podem dispor sobre o substrato de duas maneiras:
Onlap - Quando as camadas sedimentares se extendem progressivamente para o exterior da bacia.


Offlap - Quando as camadas sedimentares se vão retraindo progressivamente afastando-se do bordo da bacia.




Existem ainda termos relacionados com a ausência de sedimentação que pode ter durações muito variadas, constituindo formações com diferentes denominações, tais como:
- Hiato - quando a duração é curta.
- Diastema - interrupção curta, sem modificação nas condições de sedimentação.
- Lacuna - quando a duração é apreciável e pode ser avaliada biostratigraficamente.









Em Portugal, um dos maiores e mais espectaculares afloramentos em que é possível verificar uma descontinuidade, no caso, uma discordância angular, situa-se no Algarve (Praia do Telheiro), entre os grés vermelhos do Triássico e os xistos e grauvaques dobrados do Carbónico Superior. Formam o limite entre a Bacia do Algarve (grés de Silves) e a Zona Sul Portuguesa (grauvaques).










Bibliografia:
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http://moodle.fct.unl.pt/mod/resource/view.php?id=93673 (Descontinuidades sedimentares e tipos de contacto entre unidades litológicas) (Prof. João Pais, UNL) (9.10.08)
- Apontamentos Estratigrafia e Paleontologia, Prof.Paulo Legoinha, FCT-UNL 08/09
-
http://geopor.pt/gne/ptgeol/contactos/contacto3.html (Triássico/Carbónico-Praia do Telheiro) (9.10.08)
- Fotos: Mariana Quininha 08/08